SALADA CAPRESE churrasco sem vinagrete é inaceitável

Rosario

Rosário, dirigido por Felipe Vargas e estrelado por Emeraude Toubia, é um filme que, à primeira vista, se apresenta como mais um exemplar do terror moderno nos moldes popularizados por James Wan em franquias como Invocação do Mal e Sobrenatural. O longa realmente abraça alguns desses elementos – a atmosfera carregada, os sustos cronometrados e a fotografia sombria, mas tenta se diferenciar ao inserir uma camada identitária que dialoga diretamente com a experiência latina.

A protagonista Rosario é introduzida como uma mulher que renega suas origens, escondendo-se atrás de uma “máscara de mulher branca”. O figurino corporativo, o nome que evita pronunciar e o comportamento distante da cultura da própria família evidenciam uma personagem moldada para caber em um ideal americano. O elemento sobrenatural, entretanto, acaba funcionando como um catalisador para a sua reconciliação com o passado e com sua identidade latina. Nesse sentido, o terror aqui não é apenas sobre espíritos ou maldições, mas também sobre a dor de se negar a si mesmo.

Apesar dessa premissa instigante, o filme tropeça em alguns pontos cruciais. O maior deles é a maneira incoerente como Rosario é escrita. Em diversos momentos, a personagem toma decisões que colocam sua vida em risco de forma tão gratuita que quebram a suspensão de descrença do espectador. A tentativa de construir uma figura destemida resulta em alguém que parece simplesmente irresponsável e imprudente. Isso enfraquece a conexão com o público e gera a sensação de que a trama só avança por escolhas artificiais do roteiro.

Outro problema é a exigência excessiva de credulidade em relação ao espaço do apartamento. A narrativa sugere que uma senhora idosa teria transformado ambientes vastos em altares e locais de rituais, algo pouco convincente diante da realidade apresentada. Esse detalhe, somado à falta de clareza nas regras que regem a entidade e os rituais, cria uma série de furos que comprometem a consistência da história.

Ainda assim, há méritos. A ambientação e a fotografia são bem competentes, criando o clima adequado de opressão e mistério. As atuações, embora não se destaquem a ponto de prêmios, cumprem bem o que os papéis pedem. Outro aspecto positivo está no modo como o filme lida com práticas religiosas latinas e de matrizes africanas. Apesar de inicialmente reproduzir estereótipos, Rosário consegue resignificar esses elementos ao longo da narrativa, transferindo a visão preconceituosa tanto para a protagonista (que tenta apagar suas raízes), quanto para o público.

No fim, Rosário é um bom filme de terror, capaz de entreter e provocar reflexão, sobretudo por sua subtrama sobre identidade e ancestralidade. Porém, ao tentar se equilibrar entre a abordagem diferenciada das religiões fora do espectro cristão e a fórmula hollywoodiana já desgastada, o resultado acaba sendo um híbrido irregular: um terror genérico com temática latina, interessante em sua ideia, mas limitado em sua execução.

Autor:
🗺️Historiador, professor e criador de conteúdo focado em quadrinhos e mangás.