Uma coisa que não se pode dizer do cineasta Paul Thomas Anderson é que ele fica na sua zona de conforto. Eu já estou acostumado a entrar na sala de cinema sem saber direito o que eu vou encontrar. Pode ser um drama puxado, que vai te acompanhar pra sempre, tipo o excelente Sangue Negro, ou pode ser um romancezinho cômico e adorável, protagonizado por crianças empresárias, como no excelente Licorice Pizza. Pode ser que eu não entenda nada porque eu sou burro, tipo Inherit Vice ou eu não entendo nada porque ele quer que eu não entenda nada até ele me explicar, como em Magnólia.
Já ficou claro que ele não segue um padrão cinematográfico: ele vai fazer o que ele quer ou não. O que lhe der na telha. Seu novo filme, Uma Batalha Após a Outra é uma ação diferente de tudo que ele já fez. E é ótima.
É também mais uma oportunidade para vermos Leonardo DiCaprio brilha em TODA cena que ele atua, que é basicamente todo o filme. É inaceitável que esse homem tenha um só Oscar na prateleira de sua merecida mansão. Daqui a pouco a estatueta vai completar 25 anos e ele vai ter que jogar ele fora, mas não tem problema porque é bem evidente para mim que até lá ele já vai ter ganho mais umas 10. Leonardo DiCaprio tem tudo para se tornar o Meryl Streep americano. O Anthony Hopkins de calças. Ou vice-versa, não sei, acho que uma crítica do Paul Thomas Anderson tem que ser confusa e superlativa mesmo, já pra deixar o leitor no clima.
No fundo, o tema da obra é paternidade. E nesse tema, o filme consegue ser fofo. Essa coisa de revolução, explodir coisa, lutar karatê, truculência policial e Sean Penn com cara de quem acabou de socar a Madonna é só um pretexto pra estreitar uma relação fofa de pai e filha.

O pai já ganhava o filme, mas a filha ainda assim corre atrás: não à toa que o nome da atriz é Chase. Uma novata de 25 aninhos bem conservados, mas meio avançados demais para interpretar uma menina de 16 anos. Não é problema para mim, eu assistia Chaves. No papel de Willa, uma personagem tão bad-ass que eu acho que devia ganhar um spin-off próprio, ela manda bem demais. Se dependesse dela, a próxima geração de revolucionários estaria garantida.
Ainda bem, porque os revolucionários de hoje em dia são todos uns patetas. Bob Ferguson, o personagem de DiCaprio, sofre correndo atrás de revoluções improvisadas, decorando códigos, aprendendo pronomes, e sendo cancelado por dizer as coisas erradas; logo um cara que lutava para libertar imigrantes, legalizar o aborto e explodia uns deputados. Um revolucionário que luta por causas de verdade, agora provavelmente tendo que interromper seu caminho para colocar um banheiro neutro em um bunker. Maravilhoso.
O filme é enorme, com quase 3 horas de duração. Ele não se apressa, não corta caminhos – e, muito pelo contrário, ele alonga caminhos de forma aparentemente desnecessária. A gente só não percebe porque está vendo personagens divertidos interpretados com maestria em uma película que surge como um “clássico PTA”. O que, no currículo do cineasta, é quase todo filme, e pode significar qualquer coisa.