Eu sou um grande fã de cinema alemão. Acho as histórias densas e inteligentes; e, honestamente, sou uma das poucas pessoas que aprecia de fato a língua germânica, então também gosto de ouvir esse bando de atores falando de forma quase ofensiva.
A história alemã também me encanta. Tanta coisa aconteceu por lá nesses últimos 100 anos que até parece pouco explorado.
Good bye, Lenin
A queda do socialismo, por exemplo. Alguns filmes já trataram do tema com maestria, especialmente Good Bye Lenin, um filme que já virou clássico, estrelado pelo nosso quase-latino Daniel Brühl. Ainda assim, parece pouco. O fim do socialismo em Berlim é envolto em tanta história e tantos acontecimentos que era de se esperar várias histórias saírem desse período. Em especial, claro, em Berlim, onde um maldito de um muro dividiu uma mesma cidade em duas realidades completamente distintas.
Imagina o choque dos habitantes de Berlim Oriental ao ver a realidade do que acontecia em Berlim Ocidental. As músicas de rock inglesas, os bares e clubes, Coca-Cola, globalização… Tudo o que essa galerinha estava perdendo.
Eu sou muito suspeito nesta crítica, afinal morei 3 anos em Berlim e sou apaixonado pela cidade e tudo o que acontece por lá. Em especial, histórias sobre a divisão da cidade – até escrevi um pequeno livro destacando os pontos históricos favoritos do que eu aprendi.
Foi a oportunidade de visitar outra história desse período que mais me atraiu quando recebi o convite para assistir O Grande Golpe do Leste
Dois para um
O nome original de Zwei zu Eins (ou “dois para um”), traz um contexto mais aproximado sobre a base do golpe que o nome traduzido tanto fala. Apesar de se vender como um heist movie, ele acaba sendo mais um filme econômico, onde a gente termina aprendendo um pouco mais sobre a complicada transição econômica que foi parte da unificação germânica.
O dinheiro da Alemanha Oriental perdeu valor com uma velocidade absurda. O tal do golpe dado não é nem pelo roubo das notas em si, mas é pela forma que os personagens principais do longa trabalharam para lavar essa grana. Afinal, para trocar marcos-alemães-orientais (e este era o nome oficial da moeda) para marcos-alemães era necessário comprovar a origem. Como o país era socialista, não faria o menor sentido alguém ter milhares de marcos guardados em um colchão. Porque o socialismo não é sobre todo mundo dividir tudo, mas sobre todo mundo ser pobre do mesmo jeito.
Quer dizer, quase todo mundo. Logo, os socialistas aprendem que eles eram todos iguais, mas alguns eram mais iguais do que outros.
Essa é a parte legal do filme. Nenhum personagem têm necessariamente uma profundidade imensa, mas a relação entre eles é divertida de acompanhar.
Ich bin ein berliner
Pra quem gosta de cinema alemão, não tem muito o que ficar em dúvida: vale ver o filme. Ainda mais por contar com uma das maiores estrelas alemãs da atualidade: Sandar Hüller, que concorreu ao Oscar ano passado por dois filmes (“Anatomia de uma queda” e “Zona de Interesse“).
É um filme divertido, bem produzido. Sem reclamações e nem maiores exaltações. Um dos filmes alemães já feitos.