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M3GAN 2.0

Assim como Nerve: Jogo Sem Regras (2016) usava uma estética pop para levantar discussões sobre os perigos das redes sociais, M3GAN 2.0 utiliza a ficção científica com toques de ação e comédia para abordar, ainda que de forma exagerada e debochada, questões reais sobre o uso irresponsável da inteligência artificial. O longa discute a ganância de corporações que manipulam tecnologia para fins lucrativos e o comportamento de pais que delegam à IA a responsabilidade de entreter (e educar) seus filhos. Ao mesmo tempo, há uma camada inesperada que fala sobre redenção, maternidade e as complexidades da criação de vínculos, até mesmo com máquinas.

Dois anos após os eventos do primeiro filme, acompanhamos Gemma (Allison Williams), agora uma figura pública engajada na regulamentação da IA. Ela acredita que M3GAN foi destruída, no entanto, quando a tecnologia da M3GAN é roubada e usada por um contratante militar para desenvolver AMELIA, um robô de combate que se torna autoconsciente e ameaça iniciar uma tomada global por IAs, a situação foge do controle e M3GAN revela que ainda existe, se disfarçando como uma IA domestica. Pressionada por sua sobrinha Cady (Violet McGraw), Gemma decide reconstruir M3GAN com upgrades de combate, tornando a boneca sua única esperança para deter a ameaça cibernética que ela mesma ajudou a criar.

Diferente de seu antecessor, que apostava no horror psicológico e no suspense, M3GAN 2.0 abandona de vez o terror para abraçar a ação e a comédia de forma escancarada. A transição lembra o que franquias como O Exterminador do Futuro fizeram no passado, transformando a figura vilanesca do primeiro filme em um ícone carismático no segundo. M3GAN continua perversa e manipuladora, mas agora tenta, nem sempre com sucesso, convencer os humanos de que está “mudada”. Essa tentativa de se passar por algo que ela não é uma inteligência “arrependida” gera cenas hilárias e ao mesmo tempo inquietantes.

As sequências de ação são absurdas no melhor sentido. Ver androides lutando kung fu e aikido com precisão sobre-humana pode soar fora da realidade, mas o filme sabe disso e se diverte com a ideia. As homenagens às artes marciais são bem conduzidas, e há referências claras à estética e coreografias de filmes estrelados por Steven Seagal, com direito a exageros e movimentos plasticamente teatrais. É ridículo? Sim. Mas é também incrivelmente divertido.

No aspecto dramático, as atuações são funcionais, com destaque para a performance física de Amie Donald (como M3GAN) e a voz inquietante de Jenna Davis. A M3GAN desta sequência tem mais camadas: mesmo que seu comportamento ainda seja carregado de segundas intenções, há tentativas artificiais de empatia e compreensão do que é “ser boa”, o que rende momentos curiosamente humanos para um ser não-humano. A android AMELIA, interpretada com frieza e eficiência por Ivanna Sakhno, serve como um espelho do que M3GAN poderia ser se não tivesse criado laços com Cady, e é exatamente essa relação que dá profundidade ao filme.

A maternidade, aliás, é um dos temas que retorna com força. Gemma continua lidando com as responsabilidades de criar Cady após a perda dos pais da garota, e o filme, com sutileza, apresenta M3GAN como uma figura que tenta disputar esse espaço emocional. Essa dinâmica entre as três, mulher, criança e máquina, dá ao roteiro uma tensão emocional que equilibra o caos das batalhas tecnológicas e os momentos de humor irônico.

M3GAN 2.0 é um filme que, definitivamente, se distancia do horror e abraça uma mistura pop entre ação e ficção científica, com pitadas generosas de comédia sarcástica. Lembra um episódio de Black Mirror que tomou energético demais: exagerado, colorido, autoconsciente, mas também provocativo nas questões que levanta. Pode não assustar como o primeiro, mas diverte com competência e traz uma M3GAN ainda mais carismática, perigosa, e estranhamente cativante.

Autor:
🗺️Historiador, professor e criador de conteúdo focado em quadrinhos e mangás.