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Invocação do Mal 4: O Último Ritual

Invocação do Mal 4: O Último Ritual resgatou algo que o terceiro longa da franquia havia esquecido: os filmes de James Wan não se sustentam apenas em exorcismos e demônios, mas sobretudo em histórias sobre famílias em desespero, que se veem sozinhas diante de situações insuportáveis. É nesse espaço de dor que Ed e Lorraine Warren sempre encontraram sua força como protagonistas , não como heróis infalíveis, mas como um casal disposto a oferecer acolhimento, carinho e esperança a quem atravessa momentos inimagináveis. Essa essência retorna aqui com mais vigor, lembrando ao público o que fez da série principal um marco no cinema de terror moderno.

A trama acompanha Ed e Lorraine em um novo caso sobrenatural, mas desta vez a narrativa se volta de forma especial para a filha do casal, Judy. Ainda em conflito com sua mediunidade e relutante em aceitar o dom que herdou, Judy se vê obrigada a enfrentar um vilão intimamente ligado ao seu passado. Essa conexão pessoal torna seu arco central na história, elevando-a ao posto de protagonista ao lado dos pais.

O longa ganha força ao colocar Judy no centro da narrativa, explorando sua vulnerabilidade e amadurecimento de forma convincente. A ideia de passar a história nos anos 80 também oferece um frescor à franquia, trazendo elementos visuais e sonoros que ajudam a renovar a atmosfera. Além disso, os jumpscares e a construção de tensão continuam competentes, mantendo o padrão elevado do chamado “Invocaverso”.

No entanto, apesar do resgate à essência original, o filme falha em pontos que os dois primeiros capítulos executavam com maestria. O principal deles é a construção do vilão. Ainda que a ameaça seja ligada diretamente à trajetória de Judy, falta ao antagonista a força icônica de figuras anteriores. Basta lembrar de Valak: mesmo sem ter recebido filmes derivados à altura, sua presença em Invocação do Mal 2 estabeleceu um padrão altíssimo, difícil de ser superado. O quarto longa simplesmente não atinge esse nível de impacto.

Outro ponto que pode soar como demérito é o retrato de Ed e Lorraine. Aqui, o casal parece mais amador e desesperado do que de costume, como se os anos de afastamento tivessem lhes feito “perder o jeito”. Se, por um lado, isso humaniza os personagens, por outro, causa estranhamento em quem se acostumou a vê-los como investigadores firmes e preparados diante do sobrenatural.

No fim, Invocação do Mal 4: O Último Ritual entrega um capítulo sólido, com atmosfera envolvente e boas ideias, principalmente ao dar destaque a Judy. Contudo, deixa a sensação de que falta aquele vilão memorável e a mesma firmeza narrativa que consagrou os dois primeiros filmes. É um retorno às raízes, mas que ainda não alcança o auge da franquia.

Autor:
🗺️Historiador, professor e criador de conteúdo focado em quadrinhos e mangás.