Uma das informações mais interessantes de Cyclone, filme de Flávia Castro, que chega aos cinemas no dia 27 de novembro, aparece nos créditos de encerramento do filme. É uma frase que obriga o espectador a reavaliar a história que viu até então. Antes desse detalhe, vamos para a sinopse.
Cyclone narra a história de Daise, vivida por Luiza Mariani, que divide o seu tempo entre a dramaturgia e o trabalho em uma gráfica, na São Paulo do começo do século passado. E são muitos os desafios. Entre eles, conseguir que Heitor Gamba (Eduardo Moscovis) lhe dê crédito na peça em que escreveram juntos, uma adaptação de Bruzundanga, de Lima Barreto – até porque, esses créditos facilitariam muito a vida de Daise, ou Cyclone, como prefere ser chamada, na burocracia para entrar na França, e poder desfrutar da bolsa para estudar Teatro no país de Moliére. Em tempo: nessa época, a mulher só podia viajar para fora do país com a autorização do pai ou do marido.
A relação com Heitor é complicada. Num primeiro momento, ele aceita a ideia de creditar Daise, mas tem um fator complicador aí: eles são amantes e a ideia de vê-la em outro país não agrada muito o dramaturgo. E o que está complicado, vai ficar bem pior durante a projeção.
Apesar desse arco ter a sua relevância, é na relação da protagonista com as demais mulheres da história que é o grande pilar de sustentação da trama. Até porque, estamos falando de um filme escrito, produzido, dirigido e estrelado por mulheres. O enfoque é feminino e feminista em igual medida. Vemos tudo pelo ponto de vista de Daise. E então chegamos naquela informação final lá do primeiro parágrafo desse texto.
O filme é livremente inspirado na vida de uma personagem real: Maria de Lourdes Castro Pontes. Quem? Pois é, só conheci ela pesquisando para essa resenha e o que descobri mudou o meu olhar sobre o filme. Maria de Lourdes, cujo pseudônimo era Miss Cyclone ou Daise, foi uma das personagens mais importantes, e desconhecidas, do modernismo Brasileiro. Esteve próxima de um dos grandes baluartes desse movimento, Oswald de Andrade. Daise morreu muito jovem, com apenas 19 anos, depois de um aborto mal sucedido. Provavelmente, de um filho de Oswald.
Sua morte prematura fez com que sua contribuição para o modernismo não tivesse o devido crédito. E, segundo Lira Neto, biógrafo de Oswald de Andrade, ela teve um papel central na construção do estilo do autor de O rei da vela. Cyclone, portanto, busca através de uma história fictícia, jogar luzes em uma história real, que ficou escondida nas brumas do tempo.