SALADA CAPRESE may tomatoes be with you.

Saneamento Básico, o Filme

Assistir o curta “Ilha das Flores” (1989)  junto de “Saneamento básico, o filme” (2007), a partir desta quinta, 29, é a comprovação que alguns seres humanos nascem com o telencéfalo muito mais desenvolvido do que outros. Este é o caso de Jorge Furtado, o diretor e roteirista desses filmes. E de muitos outros. Dá uma olhada no IMDb do cara. É impressionante! Vamos por ordem cronológica. 

A primeira vez que vi Ilha das flores, se não me engano, foi no ensino médio. Em alguma aula de história, provavelmente. Se os detalhes já escapam da memória, o que vi naqueles 13 minutos ficaram para sempre na minha cabeça. É uma aula de concisão, narrativa, crítica social, tudo isso embalado em um texto brilhante. E foi premiado como o melhor curta no Festival de Berlim. 

Nem faz sentido uma sinopse de um filme tão curtinho. Basta saber que você vai assistir a um falso documentário – mockumentary, para usar um jargão gringo -, com características muito particulares. Primeiro, nem tudo é falso nele.  Em linhas gerais, acompanhamos todo o ciclo produtivo de um tomate, da fazenda de um japonês, passando pela panela de uma dona de casa, até o desenlace emocionante. Você nunca mais vai comer um tomate do mesmo jeito. Se existe um pouco de dramaturgia e ironia, é justamente para potencializar a denúncia que encerra esta pequena grande obra-prima do audiovisual nacional.

A narração de Paulo José também vai ficar muito tempo ecoando em sua cabeça. Telencéfalo altamente desenvolvido, polegar opositor, telencéfalo… polegar opositor… E a boa notícia é que ele volta logo em seguida, no Saneamento Básico, o filme. Aqui, ele vive Otaviano, pai da protagonista Marina, vivida por Fernanda Torres. 

Se a política e a crítica social unem as duas películas, a voltagem é diferente. Aqui, temos uma deliciosa sátira política, que ecoa um pouco a dramaturgia de Dias Gomes. Em “O bem-amado”, o objetivo do prefeito Odorico Paraguaçu é construir um cemitério em Sucupira. 

Em saneamento, por sua vez, o objetivo de Marina e sua trupe é conseguir dinheiro para fazer uma fossa sanitária e finalmente melhorar o saneamento da região em que moram. Marina descobre que a prefeitura não alocou nenhuma verba específica para o saneamento, mas existe uma grana voltada para a elaboração de um filme. Se conseguirem fazê-lo barato o suficiente, é possível que sobre o suficiente para a fossa sanitária.   

O pequeno detalhe é que ninguém ali faz a mínima ideia de como se faz um filme. É tudo improvisado, na base da tentativa e erro – com muitas tentativas e infinitos erros. O elenco é estelar e todos entregam performances excelentes. Ver os dois filmes é entretenimento garantido e um alento para o telencéfalo mais exigente. 

<< Frederico Segundo