SALADA CAPRESE já assistiu tomates verdes fritos?

The Life of Chuck

Uma ex-namorada um dia me disse uma frase que eu penso com uma certa freqüência desde então. Conversávamos sobre relacionamentos amorosos e como eles são, por si só, seu próprio mundo.

Toda vez que um relacionamento acaba, é um Universo que explode“, disse ela. São piadas internas, carícias, afagos, receitas culinárias, atividades que eram feitas juntos. Podem ser quebra-cabeças, pode ser uma série que os dois assistiam. São fotos, amizades em comum, lugares freqüentados, hobbies compartilhados, pares de dança, familiares. Quando um relacionamento acaba, tudo se extingue.

Com o tempo, percebi que isso não se restringe a relações amorosas, mas qualquer tipo de relacionamento é um universo compartilhado.

E mais do que isso: todo homem é, em si, um universo. O poeta John Donne escreveu um poema onde ele destaca que nenhum homem é uma ilha:

No man is an island,
Entire of itself;
Every man is a piece of the continent,
A part of the main.

Ao mesmo tempo que cada pessoa é parte de um todo, impossível de ser considerada por si só, cada uma é também um universo em seus próprios pensamentos, com seus trejeitos, histórias, manias. Mais do que isso, cada pessoa é um universo próprio aos olhos de outra pessoa.

Charles Krantz

O protagonista de The life of Chuck é uma pessoa ordinária. Não há nada de extraordinário nela, não há nenhuma grande história, não há nada que seja especial ou incrivelmente relevante. Seu maior feito é algo pequeno, esquecível.

Essa insignificância consegue deixar tudo ainda mais especial. Não é preciso, afinal, ser uma figura notória para que tudo o que foi previamente dito faça sentido. Se nenhum homem é uma ilha ao mesmo tempo que todo homem é um universo, até mesmo a mais discreta das vidas pode influenciar outras ao seu redor ao mesmo tempo que carrega dentro de si a presença de um mundo inteiro.

Não é só no fim de relacionamentos que universos se findam. É em cada demissão corporativa, em cada mudança de casa, em cada briga entre amigos.

Eventualmente, como tantos outros namoros, meu relacionamento com essa ex-namorada chegou ao fim. Nosso universo ruiu, mas não completamente. Conseguimos manter contato, o que significa que as piadas internas, as lembranças de livros, séries de televisão, viagens, e filmes compartilhados ainda existem. Não só individualmente em cada um de nós, mas em cada troca de mensagens ou encontro para um café. E, mesmo que o romance não esteja mais lá, um dia houve um universo inteiro. Explodiu, mas ainda existe.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.