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Jurassic World: Recomeço

Um dos primeiros filmes que vi no cinema foi Jurassic Park, em 1993. Um verdadeiro presentão entregue pelas mãos do Spielberg. Era tudo que um garoto poderia sonhar: dinossauros colossais, suspense bem dosado, efeitos especiais (e práticos!) que ainda hoje impressionam, e aquela faísca mágica de ver um parque temático onde o perigo é real — e tem dentes afiados.

Mas o tempo passou. E o filme virou franquia. E a franquia virou um parque temático cansado, daqueles que você visita mais pela memória afetiva do que por algum tipo de adrenalina genuína. Chegamos, então, ao sétimo capítulo dessa epopeia jurássica: Jurassic World: Recomeço.

Curioso é que, apesar do título otimista, o que o filme mais parece é um encerramento — não no sentido épico, mas no de uma loja de shopping que vende camisetas de dinossauro e anuncia liquidação. Até por que a Loja do Salada Caprese já oferece isso.

Mas criativamente, o último sumo já foi espremido há pelo menos dois filmes. E o roteiro, num looping sem vergonha, recorre aos mesmos ingredientes de sempre: laboratórios obscuros, dilemas éticos de papelão e a velha crença de que sempre dá pra inventar um dinossauro maior, mais agressivo e ainda mais esquecível.

Aliás, nem isso empolga mais. Houve uma era em que cada novo longa trazia uma aberração genética com nome de rede Wi-Fi e garras a perder de vista. Agora? Já nem sei se teve um novo dino. E, com sinceridade, acho que ninguém mais está prestando muita atenção.

Se houver um oitavo filme, aposto numa parceria com a Warner: Jurassic Park vs Godzilla. Ou quem sabe um crossover com Transformers — com dinossauros que viram carros, que viram robôs, que viram… o tédio. A essa altura, o multiverso da Universal já está aceitando qualquer visitante sem checar o DNA.

A grande “novidade” de Recomeço foi a entrada de Scarlett Johansson como protagonista. Uma tentativa clara de renovar a franquia com um rosto conhecido e competente. E, justiça seja feita, ela entrega carisma, corre, pula, atira e faz cara de espanto com a serenidade de quem já enfrentou um titã roxo com crise existencial e luva de pedreiro. O ritmo do filme também é eficiente, as cenas de ação funcionam e, surpreendentemente, não temos o T-Rex nem os raptores como astros principais. Uma ousadia? Talvez. Uma perda? Sim — embora a aposentadoria desses veteranos jurássicos já fosse questão de tempo.

O problema é que Recomeço flerta com a ideia de reboot, mas tropeça como blockbuster genérico. Nem mesmo o retorno de Spielberg como produtor executivo conseguiu reavivar a centelha do parque original. Faltou encanto. Faltou espanto. Faltaram dinossauros de verdade — e não apenas criaturas genéricas do monstroverso surgindo entre uma explosão e outra, como se fossem NPCs jurássicos.

No fim das contas, Jurassic World: Recomeço entrega o pacote básico de ação, aventura e efeitos. Mas fica longe de recapturar a magia que fazia um simples brontossauro pastando parecer uma aparição divina. Talvez o verdadeiro recomeço da franquia seja deixá-la em paz. Ou, quem sabe, selada num bloco de âmbar, aguardando um novo Spielberg com mais do que nostalgia e pixels nas mãos.

Designer, beatlemaníaco e colecionador de baralhos. Atualmente atua como assistidor profissional de filmes repetidos.