“Goat” parte de uma premissa instigante: um jovem quarterback em ascensão, Cameron Cade (Tyriq Withers), vê sua carreira ameaçada após uma lesão violenta, apenas para ser resgatado por seu ídolo, Isaiah White (Marlon Wayans), que oferece um treinamento redentor e aos poucos, sufocante. A sinopse já sugere o tom de parábola, e o filme realmente se move nesse terreno, transitando entre o suspense psicológico e a crítica social à indústria do futebol americano.
Visualmente, Goat é arrebatador. A fotografia valoriza tanto o contraste entre a glória dos estádios e a clausura dos espaços de treino quanto a transição de luz e sombra que espelha a descida do protagonista em direção à manipulação de seu mentor. A edição, fluida e bem ritmada, sustenta o clima de tensão, ainda que por vezes se sobreponha ao desenvolvimento humano da trama.
O maior destaque do elenco é Marlon Wayans. Conhecido por papéis cômicos, ele surpreende ao dar vida a Isaiah, oscilando entre a aura de guia inspirador e a figura sombria de um manipulador sádico. Seu trabalho dá densidade à metáfora central do filme e cria momentos de desconforto palpável.
Já Tyriq Withers, apesar de protagonista, se mostra apático e disperso durante boa parte da narrativa. Sua interpretação, marcada por uma falta de variação expressiva, pode ser lida como reflexo do personagem “fingindo” pertencer àquele universo esportivo, mas na prática, soa genérica e desengajada. Apenas no clímax, quando sua catarse finalmente irrompe, Withers consegue revelar o potencial que até então permanecia escondido.
Na concepção estética e narrativa, Goat busca claramente emular o estilo de Jordan Peele, combinando elementos de terror com uma crítica sociopolítica. A intenção é clara, denunciar os mecanismos de exploração e desumanização da indústria esportiva nos EUA.
Porém, ao longo do filme, essa crítica passa a se sobrepor ao arco dos personagens, que perdem relevância diante da alegoria. A escolha de sacrificar o desfecho pessoal dos protagonistas em nome da mensagem torna a obra conceitualmente ruidosa, mais interessada em ser símbolo do que em contar uma história orgânica.
Em conclusão, Goat é um filme visualmente belo e carregado de intenções válidas, mas que se perde ao tentar equilibrar suspense, crítica e drama humano. O resultado é uma obra que, embora intrigante em seu olhar sobre o esporte como mecanismo de opressão e espetáculo, carece de alma. Sem o devido peso emocional de seus personagens, o filme acaba soando como um eco distante das obras de Jordan Peele, uma caricatura de seu estilo, sem a mesma precisão narrativa.