Hollywood pisa fundo onde a FIA patina
A Fórmula 1 é britânica de berço, europeia por natureza — e, nos últimos anos, desesperadamente americana por ambição. Depois de consolidar seu posto como ápice do automobilismo mundial, a categoria abraçou uma missão audaciosa: conquistar o coração (e o bolso) do público dos Estados Unidos.
E não tem sido por falta de tentativa. Corridas em Austin, Miami, Las Vegas… a F1 vem fincando bandeiras no solo ianque como se estivesse colonizando um novo mundo — só que com mais glitter, mais LEDs e menos ultrapassagens. Afinal, conquistar os fãs da Nascar, Indy e Daytona, acostumados a batidas, trocas de posição e cerveja no copo térmico, não é tarefa fácil.
A verdade é que, mesmo em suas eras mais “gloriosas” — Schumacher, Hamilton, agora Verstappen — a F1 anda cada vez mais… monótona. A previsibilidade virou regra. E a cada novo domínio absoluto, surge uma nova tentativa da FIA de mexer no regulamento, na esperança de parir alguma imprevisibilidade. Mas os resultados, como se sabe, são mais tímidos que ultrapassagem em Mônaco.
É aí que entra “F1® – O Filme”, e com o perdão do trocadilho infame: ele acelera onde a FIA só patina. Em pouco mais de duas horas, o filme consegue entregar mais emoção, tensão e paixão pela Fórmula 1 do que anos de tentativas burocráticas de “melhorar o espetáculo” dentro das pistas.
Sim, o filme é oficial, encomendado pela própria F1. E sim, ele exagera — mas em nome da dramatização, e com a bênção de Hollywood. Nada que vá incomodar quem já está acostumado a acreditar que Vin Diesel pode rebocar um helicóptero com uma corrente de braço. Aqui, o espetáculo faz sentido.
Brad Pitt, como sempre, entrega o que promete. Seu personagem é uma improvável mistura de Ayrton Senna com Aldo, o Apache de Bastardos Inglórios. Uma figura tão mítica quanto carismática, que arranca simpatia mesmo quando faz coisas que desafiam as leis da física e do bom senso. E a química com Javier Bardem — que poderia, tranquilamente, ser chefe de equipe ou vilão de 007 — funciona como uma dobradinha de corrida perfeita: harmonia e tensão na medida certa.
No fim das contas, “F1® – O Filme” é um golaço (ou melhor, uma pole position) para conquistar novos fãs. Mesmo quem torce o nariz para “carrinhos dando voltas” pode se deixar levar pela narrativa envolvente e pelo espetáculo visual. O filme entrega o que promete — e entrega com estilo.
E para a FIA, fica a lição: talvez a tal americanização das velhas e aristocráticas fórmulas europeias não seja um caminho tão errado assim. Afinal, o pessoal do Tio Sam consegue transformar até arremesso de saco de milho num campeonato de milhões de dólares. Imagina o que eles não fazem com um grid lotado e uma câmera IMAX.