Diferente de muitas adaptações live action da Disney, que frequentemente perdem parte da essência das animações originais, Como Treinar Seu Dragão surpreende ao conseguir manter-se extremamente fiel à obra que lhe deu origem. O longa não só preserva a emoção e a magia transmitidas pela animação, como também consegue oferecer uma nova roupagem para a história, sem jamais desrespeitar o material original.
O elenco está absolutamente afinado em seus papéis, mas é impossível não destacar a atuação de Gerard Butler como Stoico. Retornando ao papel que já havia dublado na trilogia animada, Butler entrega aqui uma performance poderosa e cheia de nuances. Ele faz o público acreditar, sem esforço, que é de fato o mais duro e temido dos vikings, mas, ao mesmo tempo, não destoa nas cenas em que precisa demonstrar o lado mais humano e vulnerável de seu personagem. É uma entrega que revela toda a sua desenvoltura como ator.
Mason Thames, no papel do protagonista Soluço, traz uma interpretação levemente diferente do visto na animação. Seu Soluço é um pouco menos expressivo no lado cômico, mas isso em nada compromete sua atuação. Ele consegue transmitir com sensibilidade toda a engenhosidade, a curiosidade e o coração do personagem, além de construir de forma crível e emocionalmente verdadeira a relação com Banguela, que continua sendo o coração da história.
Por sua vez, Nico Parker, que enfrentou críticas infundadas pela escolha de sua etnia, entrega uma Astrid simplesmente impecável. Sua versão da personagem carrega uma fidelidade surpreendente, tanto na personalidade forte quanto na doçura que surge conforme a relação com Soluço se desenvolve. Além disso, a química entre Parker e Thames funciona de maneira muito natural, convencendo e encantando.
Ainda que os protagonistas se destaquem, o elenco coadjuvante também merece todos os elogios. As caracterizações são fiéis ao design da animação, e as atuações são carismáticas, divertidas e absolutamente críveis dentro daquele universo. Cada personagem, por menor que seja, parece ter saltado diretamente da animação para a tela.
O design de produção é simplesmente deslumbrante. Os cenários naturais evocam de maneira épica filmes como O Senhor dos Anéis, com paisagens grandiosas e majestosas. No entanto, a arquitetura das vilas e das casas dos personagens mantém contornos mais fantasiosos, abraçando as raízes da animação sem jamais destoar do tom mais realista que uma adaptação live action exige.
Um dos maiores acertos do filme está no equilíbrio quase perfeito entre o cartunesco e o realista. Os dragões possuem texturas incrivelmente realistas, com detalhes de pele, escamas e movimentos que impressionam, mas, ao mesmo tempo, mantêm o design carismático, as expressões faciais exageradas e as proporções que os tornaram tão amados na animação. Banguela, em especial, continua sendo aquele mix perfeito de criatura mágica e pet adorável.
Em suma, Como Treinar Seu Dragão se consolida como uma das (senão a) melhores adaptações live action já feitas. O longa mantém-se fiel à história original, preserva com maestria a mensagem sobre empatia, aceitação e amadurecimento, entrega caracterizações impecáveis que respeitam o design da obra animada e, acima de tudo, consegue equilibrar o cartunesco e o realista de forma exemplar. Uma adaptação que não só respeita seu legado, como também o expande de forma belíssima.