No primeiro episódio da maravilhosa série The Studio, um produtor tem que lidar com uma demanda inusitada: um filme baseado em Kool-Aid, aquela marca de sucos que tinha uma propaganda de uma jarra quebrando uma parede. Não era um Tang, mas ainda assim parece ser um negócio bem popular nos Estados Unidos.
Quanto mais acompanhamos o andamento da indústria cinematográfica hollywoodiana, mais essa piada vai acabar perdendo a força. Tem executivos aí examinando cada mísero IP (intellectual property) na esperança de produzir uma nova Barbie.
O filme do joguinho Minecraft claramente tenta surfar essa onda. Uma onda bizarra demais para seu próprio bem.
Que raio de jogo?
Eu não sou particularmente versado em cultura Minecraft. Meu negócio sempre foi mais um Terraria. Ou, ultimamente, qualquer coisa com mais automação. Porém entendo e respeito o tamanho e a importância do joguinho, simplesmente o topo da lista dos mais vendidos do mundo.

Fazer um jogo baseado em um game de construçãozinha, porém, não é lá tarefa muito fácil, afinal, o jogo não tem uma história por si só. O jogador é atirado em um mundo onde ele pode construir qualquer coisa (e os jogadores de Minecraft constróem até calculadoras dentro do jogo).
A ausência de um roteiro a se seguir é uma desgraça e uma benção. Isso permite que os roteiristas possam escrever qualquer coisa, para o bem ou para o mal.
Para o mal
No caso, o filme de Minecraft é uma confusão do cacete. São muitos personagens, muita coisa muito jogada e bagunçada, muitos arcos de história que começam, não vão a lugar nenhum e são abandonados ou retomados futuramente sem qualquer lógica. São CINCO personagens na aventura principal e mais umas aventuras secundárias bobas, núcleos de novela que não deveriam ter espaço em um filme de menos de duas horas. Dava pra cortar 50% dos personagens.
As piadas são horrorosas, não teve nenhuma que funcionou para mim. O plot é cheio de Macguffins e soluções estapafúrdias, mas isso até tudo bem, dá pra relevar, considerando o público alvo do filme. Se não cai no lado ruim, dá pra cair no lado neutro.
Para o bem
Já no lado bom, temos Jack Black. O ator transborda carisma e sua participação completamente alucinada é o grande ponto do filme. Infelizmente ele também decidiu atirar algumas músicas no meio da história, o que faz pouquíssimo sentido, mas deve ter sido exigência do próprio ator.
As interações de Jack Black com Jason Momoa funcionam por conta única e exclusiva dos dois atores, que não parecem se importar em atuar em evidentes fundos verdes.
Não que o “evidentes” seja óbvio, afinal, o CGI do filme também é digno de aplausos. Ele é muito bem feito e bonito: pessoas reais se integram perfeitamente no mundo do jogo e, nos raros momentos que o contrário acontece, também não decepciona.
Para onde?
O fato de ser um filme ruim não interfere no fato de que ele é um filme bem divertido. As crianças vão curtir, principalmente aquelas que vão pegar as infinitas referências ao jogo.
Tem uma cena pós-crédito daquelas que a Marvel adora fazer, que não diz nada e nem promete coisa nenhuma.
Eu acredito que os fãs mais ardentes do joguinho vão adorar. Um público mais aberto e menos chato do que eu também. O filme só não funcionou comigo. Acontece.