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Anônimo 2

O primeiro Anônimo se destacava pelo fator surpresa, apresentando cenas de ação no melhor estilo John Wick, mas com um protagonista mundano: um pai de família que enfrentava dilemas e frustrações muito próximos dos espectadores, especialmente daqueles fãs de filmes de ação dos anos 80, inclusive, o próprio Hutch Mansell (Bob Odenkirk) parece ter a mesma faixa etária desse público. Já em Anônimo 2, a proposta muda de tom: a continuação se apropria da premissa do filme férias frustradas para construir uma aventura extremamente divertida, ainda que sem o mesmo impacto do primeiro longa.

Na trama, Hutch decide levar a família para uma viagem a um parque aquático de sua infância, na tentativa de recuperar a conexão com a esposa Becca (Connie Nielsen) e os filhos. O que deveria ser um descanso nostálgico se transforma em caos quando uma confusão trivial com encrenqueiros locais desencadeia uma escalada de violência. O enredo serve de desculpa para retomar o estilo explosivo do primeiro filme, mas agora com um tempero mais leve, quase cômico.

As cenas de ação seguem criativas e muito bem coreografadas, mas o que chama atenção são as armadilhas engenhosas, que remetem diretamente a Esqueceram de Mim e também a jogos de videogame em que o jogador precisa preparar o terreno para enfrentar ondas de inimigos. Essa mescla de referências cria uma espécie de colagem entre a nostalgia dos anos 80 e elementos modernos da cultura gamer, o que amplia o apelo para diferentes gerações de espectadores.

Além disso, o roteiro trabalha de forma funcional as relações familiares que justificam a trama. Elas podem soar rasas e pouco desenvolvidas em comparação ao potencial dramático que carregam, mas ainda assim são interessantes o suficiente para que nos preocupemos com o destino dos personagens.

Se no primeiro filme o foco emocional recaía principalmente sobre a filha do casal, aqui é Becca e o filho que assumem o papel de fio condutor da narrativa. Mesmo que de maneira superficial, o longa toca em um tema relevante: o medo de Hutch de que seus filhos herdem ou repitam os mesmos erros de violência e afastamento que marcaram sua própria trajetória. Isso dá ao filme uma camada extra de humanidade em meio ao exagero cartunesco da ação.

Apesar das qualidades técnicas, fotografia caprichada, lutas bem conduzidas e um roteiro ágil e divertido, o filme apresenta um defeito notável em relação ao anterior: a suspensão de descrença. Se no primeiro longa Hutch e sua família eram “cascas-grossas”, mas ainda dentro de um realismo aceitável, aqui eles praticamente se transformam em super-heróis. A resistência física e a capacidade de regeneração beiram o sobre-humano, o que faz a franquia assumir sem pudor seu lado fantasioso. Essa guinada, embora divertida, acaba diluindo o charme original de Hutch como um “herói da classe trabalhadora”.

Em linhas gerais, Anônimo 2 é um filme que diverte, entrega boas atuações e consegue contar uma nova história sem descaracterizar os personagens já estabelecidos. É menos impactante que o primeiro, mas compensa com humor, criatividade e um espírito mais despretensioso, uma sequência que sabe brincar com suas referências e não tem medo de ser exagerada.

Autor:
🗺️Historiador, professor e criador de conteúdo focado em quadrinhos e mangás.