Bambi é daqueles nomes que evocam imagens. Basta lê-lo e lembrar da clássica animação da Disney de 1942, que fez parte da infância de gerações. Pois 83 anos depois, no dia 28 deste mês, o filme volta às telonas com uma proposta diferente: um live-action sem CGI, gravado com animais de verdade.
Antes de falar do lançamento, cabe falar um pouco do produto menos conhecido, o romance que inspirou os filmes e o seu autor: Felix Salten. A primeira curiosidade é que esse não é o seu nome de batismo. Austríaco, ele foi batizado de forma bem Austríaca como Siegfried Salzmann.
Escreveu um pouco de tudo na vida, mas nada teve o mesmo reconhecimento que as obras que tiveram a simpática Corça como protagonista. Sim, você leu certo. Bambi, na verdade, é uma Corça. Uma espécie de cervo pequeno que, quando adulto, pesa até 35 quilos. Foi a Disney que mudou a espécie para um Veado, para torná-lo mais próximo dos espectadores americanos.
O livro, lançado em 1928, fez imenso sucesso, mas nem tudo foi alegria para Felix Salten. A obra foi considerada imprópria pelo regime nazista, obrigando o autor, junto com sua esposa e filha, a fugirem para a Suíça. Para os olhos de hoje, é impossível saber o que gerou o banimento pelos Nazis – embora seja complicado exigir lógica e racionalidade de um regime totalitarista alucinado.
Se você ficou curioso, é possível ler o romance original, que ganhou uma boa edição da Darkside/Wish, traduzida por Petê Rissatti. Boa parte das informações sobre o autor e a obra desta resenha, vieram dos textos de apoio escritos por Rissatti. E prepare-se para se surpreender com o material original. Bambi é uma fábula pesada, sombria, que quase não abre espaço para alívios cômicos. É impressionante pensar que essa história foi pensada para crianças, e gerou a super fofa adaptação da Disney.
Aqui, cabe mais uma curiosidade. Sabe quanto Felix Salten ganhou pelos direitos de filmagem de Bambi? A nababesca quantia de mil dólares. Quem comprou foi um diretor americano chamado Sidney Franklin que, posteriormente, revenderia os direitos para a Disney. Franklin é homenageado na abertura do filme: “Para Sidney A Franklin, nosso sincero agradecimento por sua inspiradora colaboração”. Fofo, né?
E finalmente chegamos na mais recente adaptação “Bambi, uma aventura na floresta” dirigida por Michel Fessler, também um dos responsáveis por A marcha dos pinguins. É possível resumir este filme como um documentário da National Geographic para crianças. A narração em off vai costurando todas as cenas e, na maior parte das vezes, deixa tudo cansativo e redundante, dizendo o que o público pode ver na tela. Lembra muito os quadrinhos de herói antigos, quando um recordatório narrava o que o leitor via na imagem. Apesar desse pesar, pode ser uma experiência agradável para as crianças.
E pode ser proveitoso para os pequenos assimilar o ponto que une o livro e as adaptações de Bambi. Em todas elas, o grande vilão é o ser humano. Somos nós que geramos todas as tragédias vividas pelos animais. A mensagem ecológica, que era moderníssima em 1928, manteve-se importante em 1942, e continua urgente em 2025, faz com que Bambi nunca perca a sua relevância.